Marc Chagall criou seu próprio mundo colorido de mitos e mágica, cheio
de estranhas criaturas e eventos miraculosos. Ainda assim, sua arte foi
essencialmente baseada em memórias e experiências reais, que ele transmutou no
caldeirão de sua imaginação. Um homem quase inteiramente absorvido por seu
trabalho e sua vida familiar, destinado a confrontar-se com as mais variadas
culturas, a atravessar guerras e revoluções e a passar por fugas e exílio.
Inevitavelmente, o fato
de Chagall ser judeu tornou-se uma das principais ameaças à sua vida e sua
arte. Ele teve que superar a oposição da família à sua escolha de carreira,
porque violava a injunção bíblica conta a pintura de imagens; e, a fim de
estudar na capital, São Petersburgo, ele teve de contornar as regulamentações
czaristas que confinavam os judeus aos limites do gueto. Apesar de seu ar de
desinteresse, Chagall conseguiu ambos.
Após vários anos em São
Petersburgo (1906-1910), Chagall começou a ganhar reputação quando um
patrocinador generoso, Max Vinaver, forneceu-lhe os recursos para que se
estabelecesse em Paris, na época a indiscutível capital da arte do mundo
ocidental. Com Picasso, Braque e outros artistas hoje lendários em primeiro
plano (o Cubismo e suas ramificações estavam revolucionando as artes visuais),
Chagall explorou técnicas modernistas nunca abandonasse a tônica pessoal que já
havia forjado.
Paris tornou-se a
"Segunda Vitebsk" de Chagall, e ele quase pretendeu se estabelecer lá
permanentemente. Mas em 1914, quando estava em visita à Rússia, estourou a
Primeira Guerra Mundial, e ele não pôde voltar. Em 1915, casou-se com Bella
Rosenfeld, sua noiva desde 1909, celebrando seu amor em uma série notável de
obras que continuou a pintar mesmo após a morte dela, trinta anos depois. Nessa
época, conseguiu sobreviver à guerra trabalhando no Departamento de Economia de Guerra e chegou mesmo a
ressurgir, após a Revolução de Outubro de 1917, como Comissário de Arte em
Vitebsk. O comissariado de Chagall encerrou-se em pouco tempo, em conseqüência
de desentendimentos com seus colegas artistas, após o quê ele trabalhou como
projetista de teatro em Moscou e lecionou por um período em colônias fundadas
para órfãos de guerra. Finalmente, em 1922, como a atmosfera na União Soviética
se tornasse progressivamente menos amistosa para sua arte apolítica, Chagall,
Bella e sua filha Ida emigraram. Sua rápida visita havia durado oito anos.
Em 1923, Chagall
recebeu do famoso comerciante francês Ambroise Vollard a encomenda de ilustrar
uma clássica novela russa, Almas Mortasm de Gogol. Os Chagalls se estabeleceram
na França, e Marc ganhou uma nova reputação como ilustrador em guache e
gravuras enquanto continuava sua carreira como pintor. Os anos que se seguiram
foram felizes e prósperos, cheios de trabalho e viagens, mas os anos 1930 foram
cada vez mais obscurecidos pela ascensão do facismo, refletido em obras
sombrias como Crucificação Branca.
Em 1937, Chagall
naturalizou-se francês - um privilégio logo revogado quando estourou a Segunda
Guerra Mundial e a França, derrotada pela blitzkrieg (tropa de choque alemã)
nazista, foi dividida entre autoridades nazistas e colaboracionistas. Chagall
demorou para perceber o perigo de sua posição como judeu e como um artista
condenado pelos nazistas como "degenerado". Foi mesmo preso em abril
de 1941, mas libertado graças à intervenção norte-americana, e apressadamente
partiu para o exílio uma segunda vez.
Passou os anos da
guerra nos Estados Unidos, atormentado não apenas pelas notícias da guerra, mas
também pela súbita morte de Bella, em 1944. Poucos anos depois iniciou um
relacionamento com uma inglesa, Virginia Haggard, que durou até 1952. Enquanto
isso, voltou à França em 1948, estabelecendo-se definitivamente no sul. Embora
tenha viajado muito, os dias de fuga e exílio de Chagall haviam acabado, e seu
casamento em 1952 com Valentine Brodsky trouxe-lhe a estabilidade de que
precisava.
O resto da longa vida
de Chagall foi devotado a uma criatividade superabundante. Prolífico quase até
o fim morreu com 97 anos, em 29 de março de 1985.
Principais obras do artista:
·
Eu e a princesa, 1911
·
O prometido, 1911
·
A Chuva, 1911
·
Maternidade, 1912
·
Paris à Janela, 1913
·
Sobre Vitebsk, c. 1914
·
Mania cortando o pão, 1914
·
O violinista verde, 1923-1924
·
A sirene, 1945
·
A Praça da Concórdia, Paris,
1960
·
Vila cinzenta, 1964
·
Cesta de frutas e ananás, 1964
·
O círculo vermelho, 1966
·
Alegria, 1980
·
Canção: A tora vermelha, 1981
·
O palhaço voador, 1981
Nenhum comentário:
Postar um comentário